Durante toda esta semana os estudantes estarão fazendo prova, devido a
isto não ficaremos em sala de aula, mas a supervisora nos informou sobre
a reunião marcada pra hoje a fim de discutir com os demais professores a
organização do sarau na escola, que tem o intuito de fazer atividades
interdisciplinares com os alunos.
A reunião estava marcada pra
10h00, cheguei à escola ás 09h40 e ao entrar na sala dos professores me
deparei com apenas três docentes e o bolsista Moacy, fui informada que
não haveria reunião, pois, o diretor da gestão não poderia ir, mas os
professores só foram avisados na hora. Inicialmente, fiquei chateada,
mas começamos uma longa conversa com a professora de teatro e ela nos
apresentou a dificuldade de lecionar na escola não só pela dificuldade
dos alunos, mas também da falta de uma gestão escolar efetiva e a
necessidade de um coordenador pedagógico. Ela nos contou também alguns
relatos das aulas com seus alunos, em sua primeira aula pediu que os
alunos apresentassem uma cena do seu cotidiano e um grupo apresentou uma
cena de assalto á uma professora, onde, moradores á avisavam do perigo
que estava correndo trabalhando naquela escola e que dava tempo
desistir. No final da atividade, ela perguntou aos alunos o motivo de
falar pra professora desistir, e eles disseram que ela só estava
perdendo seu tempo que naquela escola ninguém tinha jeito e todos eram
ladrões. Este caso mencionado é apenas um dentre muitos outros, ao ouvir os relatos fiquei profundamente triste, por saber que essa visão é a realidade de muitas estudantes de escola pública brasileira, acham que não são e nunca serão alguém, que não tem importância se eles estudam ou não, pois, tudo aquilo é perda de tempo. E a sensação de impotência se mistura com raiva em muitos momentos, pois muitos professores, escolas, entre outros, culpam o aluno pelo seu desinteresse pelos estudos, por sua nota baixa e por toda essa visão que eles criam da escola, mas sabemos que isso não se dá sozinho, tudo isto é culpa do Estado capitalista que deveria estar direcionando ás verbas de acordo com a real necessidade das escolas públicas brasileiras, mas somos cientes que o objetivo determinada pelo Estado aos componentes da classe excluída é a morte, seja através do envolvimento no mundo do crime, de uma doença ou pela violência. A função dos agentes hegemônicos é inibir a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho, nas escolas, nas universidades e em todos os lugares possíveis, e como não podem colocar uma lei que faça essa proibição, destrói o presente e o futuro desses alunos e de suas famílias. Muitas vezes ao entrar na sala, tenho vontade de chorar, pois em minha turma todos os alunos são negros, pobres, moradores do subúrbio de Salvador, e sempre penso na probabilidade de muitos não chegarem nem aos 18 anos, por vários motivos. E, no final de tudo, várias pessoas dizem acreditar e defendem a meritocracia, julgam cotas como privilégios e dizem que as bolsas das universidades públicas são uma “descaração”. Sinceramente, não consigo colocar em palavras minha indignação, mas ao mesmo tempo sinto-me agradecida por ter escolhido essa profissão, por estar nesta escola e principalmente por não estar anestesiada com esta situação. O tempo é curto, sei que não posso fazer milagres em poucos minutos, mas acredito que de grão em grão a galinha enche o papo. Estou muito disposta a tentar aos poucos levar essa visão pra eles e debater sobre todos estes assuntos em sala.
Bomm dia!! Estou muito contente com a organização do Blog, contudo quero ver aqui o relato de vocês, de vossas experiências iniciais, de todos e todas. Abraços e boa semana!
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